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Autoridade, Intelecto, Coração

Autoridade, Intelecto, Coração
 por
 
Benjamin B. Warfield

A exata natureza da íntima relação entre religião e teologia nem sempre é
percebida. Algumas vezes, a religião é produto direto da teologia; com maior
freqüência, teologia é compreendida como sendo diretamente baseada na religião.
A verdade é que apesar delas refletirem continuamente, uma sobre a outra, uma
não é criação da outra. Elas são produtos paralelos do mesmo corpo de verdades,
em diferentes esferas. Religião é o nome que nós damos à vida religiosa; teologia
é o nome que damos ao corpo sistematizado do pensamento religioso. Uma não é
produto da outra, mas ambas são produtos da verdade religiosa, operante nas
duas esferas da vida e pensamento. Uma não pode existir sem a outra. Ninguém,
exceto um homem religioso, pode ser um verdadeiro teólogo. Ninguém que é
livre de toda concepção teológica pode viver de modo religioso. O homem é uma
unidade e a verdade religiosa que o influencia deve afetá-lo em todas as suas
atividades, ou em nenhuma delas. Mas é na origem da verdade religiosa que lhes
é comum, que a religião e a teologia encontram suas mais profundas ligações. A
verdade concernente a Deus, Sua natureza, Sua vontade, Seus propósitos, é o fato
fundamental sobre o qual a religião e a teologia repousam. A verdade sobre Deus
é, portanto, o que há de mais importante sobre a Terra. Sobre ela descansa nossa
fé, nossa esperança e nosso amor. Através dela somos convertidos e santificados.
Dela depende toda nossa religião, bem como toda nossa teologia.
Existem três meios ou canais pelos quais a verdade sobre Deus é trazida ao
homem e feita sua possessão, para que possa afetar sua vida e assim fazê-lo
religioso, ou para que possa ser sistematizado em seu pensamento resultando em
teologia. Estes três meios ou canais de comunicação podem ser enumerados
resumidamente como autoridade, o intelecto e o coração. Em qualquer religião
sadia e em qualquer pensamento religioso verdadeiro, o qual é teologia, todos os
três devem estar ligados e devem trabalhar harmoniosamente juntos como a
causa imediata de nossa religião e nosso conhecimento. Dar mais importância a
qualquer um deles, em detrimento dos outros, irá, então, frustrar nossa vida
religiosa e nosso pensamento religioso, igualmente e fará ambos parciais e
disformes. Não podemos ter uma vida religiosa simétrica, ou uma verdadeira
teologia, a não ser através da perfeita interação de todas as três fontes de
comunicação da verdade.
Entretanto, pode-se argumentar, plausivelmente, que os três se reduzem, no fim
das contas, a um só; e que este único canal da verdade, por sua vez, pode, com
quase igual plausibilidade, ser encontrado em cada um dos três. Deste modo,
pode-se concluir que nossa confiança no processo de nosso intelecto e na
liberação de nossos sentimentos, baseia-se na fidelidade de Deus; assim, afinal, a
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autoridade é a única fonte do nosso conhecimento que concerne a Deus. Sabemos
somente o que e quanto Deus nos revela.
Semelhantemente, pode ser argumentado que toda a máxima da autoridade é
endereçada ao intelecto, que também é o único instrumento para apurar as
implicações dos sentimentos; assim sendo, toda nossa fonte de conhecimento
reduz-se, pelo menos, a esta única fonte: o intelecto. Sabemos apenas aquilo que
nosso intelecto compreende e formula para nós.
Uma vez mais, pode ser argumentado que não a razão lógica, mas os fatos da
vida, nossos esforços supernos, nossos sentimentos de dependência e
responsabilidade, suprem os pontos de contatos entre nós e Deus, sem os quais
todos os trovões da autoridade e toda excursão do pensamento no reino das
coisas divinas, poderiam ser tão incompreensíveis para nós e tão inoperante em
nós, como uma conversa sobre cores seria para um homem cego.
Há verdade em cada uma destas considerações; mas elas não servem para
mostrar que temos somente um meio de acesso às coisas divinas; antes enfatizam
o fato que as três fontes estão tão entrelaçadas e interagindo, que uma não pode
ser superestimada, em detrimento das outras, como único canal de conhecimento
concernente a Deus e às coisas divinas.
A superestima do princípio da autoridade poderia nos lançar no tradicionalismo
e por fim nos entregar, de pés e mãos amarradas, ao dogmatismo irresponsável
de uma casta privilegiada. Este é o caminho que tem sido trilhado pela Igreja de
Roma, e que resulta numa submissão desanimada à máxima, primeiro de uma
igreja infalível, depois de urna classe infalível e por fim de uma pessoa infalível.
Aqui, nem ao coração, nem ao intelecto, é permitido falar na presença da
“soberana” autoridade; mas homens são dirigidos, obedientemente, a receber
pela autoridade, mesmo o que contradiz suas mais primárias percepções (como
na doutrina da transubstanciação), ou o que se aproveita dos seus mais íntimos
sentimentos (como no uso das indulgências).
A superestima do princípio do intelecto poderia nos trazer ao racionalismo e nos
deixar sem ajuda, de posse do mero entendimento lógico. Este caminho tem sido
seguido pelos racionalistas, e nós temos, como resultado, alguma quantidade de
sistemas a priori, construídos, unicamente, sobre o mérito da faculdade da razão.
Aqui, nem à revelação, nem à consciência, é permitido promover um protesto
contra o deprimente processo intelectual; mas, todas as coisas são restabelecidas a
convite de preferências conhecidas anteriormente e requer-se dos homens que
rejeitem, como falso, tudo que não tenha prova concludente à mão, mesmo que
Deus tenha falado para asseverar sua verdade (como na doutrina da Trindade) ou
o coração diz: “eu tenho experimentado” (como no pecado original).
A superestima do princípio do coração poderia nos lançar no misticismo e nos
entregar ao engano da corrente de sentimento que flui para cima e para baixo em
nossas almas. Este caminho tem sido experimentado pelos místicos, e nós temos
como resultado o conflito de revelações antagônicas e a deificação das mais
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mórbidas imaginações humanas. Aqui, nem à verdade objetiva da palavra
revelada, nem à lealdade ao pensamento racional, é permitido confrontar o sonho
desvairado de uma alma que se imagina divina, ou a confusão de nossos mais
fracos sentimentos, com a forte voz de Deus; e os homens são proibidos de
elucidar suas fantasias rudes por justa razão (como na doutrina da absorção em
Deus), ou crer no testemunho do próprio Deus sobre sua real natureza (como com
referência a sua personalidade).
Portanto, autoridade quando imposta além do limite se tornando tradicionalismo,
intelecto no racionalismo e o coração no misticismo, ilustra o perigo de uma
edificação parcial.
Autoridade, intelecto e o coração são os três lados do triângulo da verdade. Como
eles interagem é observado em qualquer estágio concreto de sua operação.
Autoridade nas Escrituras provê a substância que é recebida no intelecto e opera
no coração. As revelações das Escrituras não acabam no intelecto. Elas não foram
dadas meramente para iluminar a mente. Elas foram transmitidas através do
intelecto para embelezar a vida. Elas acabam no coração. Elas não deixam o
intelecto intocado, se afetam o coração. Elas não podem ser totalmente entendidas
pelo intelecto, agindo sozinho. O homem natural não pode receber as coisas do
Espírito de Deus. Elas devem primeiro converter a alma antes de serem
completamente compreendidas pelo intelecto. Somente quando são vividas, são
entendidas. Por isso a frase: "Creia para que possa entender" é totalmente válida.
Nenhum homem pode compreender, intelectualmente, todo o significado das
revelações da autoridade, salvo como resultado de experimentá-las na sua vida.
Por isso, para que as verdades concernentes às coisas divinas possam ser
compreendidas de tal forma, que se unam com um verdadeiro conjunto de
verdade divina, elas devem ser: primeiro, reveladas em uma palavra autoritativa;
segundo, experimentadas num coração santo; e terceira, formuladas por um
intelecto santificado. Somente quando estes três se unem, então, podemos ter uma
verdadeira teologia. E, igualmente, para que estas mesmas verdades possam ser
recebidas de forma a produzir em nós uma religião viva, elas devem ser:
primeiro, reveladas em uma palavra autoritativa; segundo, apreendidas por um
intelecto sadio; e terceiro, experimentadas num coração instruído. Somente nesta
união, portanto, podemos ter uma religião vital.

Autor: O Rev. Benjamin Breckenridge Warfield (1851-1921), prolixo escritor e
comentarista, professor da Universidade de Princeton-USA, conhecido como "o
grande teólogo de Princeton", foi um dos mais eminentes teólogos que já existiu.
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